Ensinar e Aprender Gramática de um Jeito Diferente
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Um dos grandes desafios no ensino de espanhol é, sem dúvidas, o de descomplicar o modo como você estudante de espanhol aprende gramática. Infelizmente, devido à tradição gramatical que temos nas línguas latinas, muitas pessoas acreditam que aprender a gramática é muito mais importante do que qualquer outra coisa. Assim, é comum vermos professores explicando tópicos gramaticais exaustivamente. Cansando e desmotivando os alunos que querem apenas ser capazes de falar a língua naturalmente e não se tornarem especialistas em gramática. Como mudar isso? Como ensinar ou aprender a gramática de um modo diferente?
Quando um linguista fala sobre gramática é sempre bom saber que ele poderá estar falando de várias gramáticas. Por exemplo, a gramática à qual estou me referindo aqui é aquelas das regras do certo e do errado e dos termos técnicos usados para descrever a gramática. Veja abaixo um exemplo do que estou dizendo aqui:
“Vamos dar uma olhadinha nos pronomes relativos da língua espanhola. Anotem aí que os pronomes relativos são ‘que’, ‘quien’, ‘o cual’, ‘cuyo’ e ‘donde’.”
O professor ao dizer isso está apenas apresentando o que chamamos de gramática normativa aos alunos. Além disso, apresenta uma listinha de palavras vistas fora de contexto e de forma totalmente mecânica.
O melhor a ser feito e também o mais produtivo para o aluno que quer se comunicar e mostrar aos alunos como essas palavras são usadas. Para isso nada melhor do que muitos exemplos. Mas, nada de dar exemplos com todos eles. O ideal é dar exemplos conforme cada palavra dessas (pronome relativo) for aparecendo no decorrer do curso. Assim, se na aula de hoje encontramos a palavra “cuyo”, o professor deve escrever vários exemplos no quadro e mostrar aos alunos o que isso significa, como é usado, qual é o seu equivalente em português. Nada de falar sobre “pronomes relativos”, regras e outros termos técnicos da gramática.
- La niña, cuyo padre es profesor, es muy simpática.
- El hombre, cuya madre murió, escribió su biografía.
- El coche, cuyos faros no funcionan, es un peligro.
- Pedro, cuyas hermanas son guapas, es mi amigo.
Muitas vezes, vale muito mais perguntar aos alunos o modo como eles veem o uso das palavras ou mesmo de uma sentença (ou parte dela -chunks) do que ficar falando sobre teorias gramaticais complicadas. Um exemplo disso em sentenças (ou parte delas) pode ser visto abaixo:
- ¿A qué hora sales para el trabajo?
Ao invés de focar no tempo verbal usado na estrutura ou mesmo no modo como a estrutura é organizada o professor pode simplesmente perguntar aos alunos o significado da sentença e a partir da estrutura pedir para eles criem novas sentenças:
- ¿A qué hora sales para la escuela?
- ¿A qué hora sales para tu casa?
- ¿A qué hora sales para tu trabajo?
- ¿A qué hora sales para el aeropuerto?
- ¿A qué hora sales para la universidad?
No início de um curso de espanhol isso pode ser feito com muito mais naturalidade. Sem se preocupar muito com a teoria gramatical envolvida (tempos verbais, preposições, artigos, pronomes, etc.).
Confesso que, a princípio, não é assim tão simples. É preciso prática e paciência para perceber isso nas estruturas e, então, não encará-las gramaticalmente, mas sim lexicalmente. Porém, esteja certo que essa é, sem dúvidas, uma forma muito mais natural, dinâmica e interessante de aprender e ensinar uma língua que é tão complexa quanto a nossa.
Para encerrar, saiba que a principal mudança é focar no uso da língua, no modo padrão como ela é usada pelos falantes nativos. Portanto, procure deixar as explicações gramaticais rebuscadas e complicadas e observe (note) como a língua é usada em contexto.